Do G1 – O comparativo do desempenho eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) nos mais de 5 mil municípios no primeiro turno mostra que o presidente teve na maioria das cidades uma votação muito próxima da registrada no primeiro turno de 2018. Mas o candidato do PL teve perda em grandes cidades e regiões metropolitanas da região Sudeste. Essa redução foi compensada com a melhora do candidato do PL em cidades pequenas nas regiões Norte e Nordeste.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, conseguiu melhorar o percentual de votos em grandes e pequenas cidades em relação à votação de Fernando Haddad, que concorreu pelo partido há quatro anos.
A análise do desempenho de Bolsonaro e Lula nos municípios, feita pelo cientista político e pesquisador do Cebrap/FGV Fernando Meireles e repetida pelo g1, considera a proporção de votos válidos para cada candidato nos municípios.
Para entender como os percentuais se comportam, foram produzidos gráficos de dispersão, que relacionam, para cada cidade, o percentual de votos do candidato na cidade em 2018 e 2022. Os gráficos mostram que a votação de Bolsonaro apresentou um padrão indicando que, no geral, ele registrou desempenho muito parecido com 2018. Ao desmembrar os dados, contudo, o pesquisador do Cebrap observou que o candidato do PL teve desempenho menor em grandes cidade e melhor em municípios pequenos.
“O padrão é muito claro. Bolsonaro perdeu voto nos municípios maiores em todas as regiões, principalmente em capitais no Sudeste, região metropolitana e, no geral em municípios que têm 250 mil eleitores ou mais, mas, de certa maneira, ele compensou essa perda com o avanço pelos municípios do interior do país como um todo. Isso é muito visível quando olhamos para a região Nordeste. Embora Bolsonaro tenha perdido na maioria dos municípios (do Nordeste), ele melhorou a votação que já tinha feito em 2018 nesses lugares”, explica Meireles.
“Bolsonaro [também] avançou bastante no Norte e Centro-Oeste e no interior da região Sul como um todo. Oeste de Santa Catarina, Oeste do Paraná e Região Norte do Rio Grande do Sul. Há muitos municípios nos quais Bolsonaro melhorou a votação em mais de dez pontos percentuais em votos válidos. Então, por mais que a votação dele tenha tido uma relação muito estreita com o que já teve em 2018, Bolsonaro perdeu votos nos maiores municípios, mas compensou essa votação nos menores municípios”, acrescenta Meireles.
A distribuição dos votação de Bolsonaro, segundo Meireles, mostra que a base eleitoral do presidente vem mudando desde 2018. Ainda não há uma explicação para essa mudança. Meireles acredita que parte disso pode estar relacionado ao pagamento do Auxílio Brasil:
“O que explica essa interiorização da votação de Bolsonaro? É um pouco difícil de dizer porque ainda não temos mais dados detalhados. Duas coisas que comecei a observar é que a diferença de votos de Bolsonaro em 2018 e 2022 não tem relação com a taxa de óbitos da Covid, mas com a cobertura do Auxílio Brasil Municípios que receberam mais repasses per capita em setembro foram lugares em que Bolsonaro melhorou a votação em relação a 2018. Isso é muito forte no Norte e moderada no Nordeste, mas no restante do país menos saliente”, afirma.