Por Renata Gondim – Tirando o termo “Orçamento Secreto”, a frase mais usada nesta campanha ao Governo do Estado é, sem dúvidas, a de que “eleição é comparação”. Pena que o eleitorado não se interesse de fato em fazer esta tarefa de casa a ponto de tirar a limpo sobre quem fala a verdade ou quem está acusando o amiguinho quando comete o mesmo erro.
Em tempos de redes sociais e de uma comunicação cada vez mais rápida, é evidente que a busca por informações sobre um passado não tão distante – e até mesmo por um presente – foi trocada pela facilidade das frases criadas, muitas vezes até mascaradas, pelos seus objetivos meramente eleitorais.
Mas não custa nada dar uma ajudinha a vocês, comentando, de forma simples, algumas das acusações e ideias que os candidatos andam trabalhando em seus guias de campanha de rádio e TV. Na maioria dos casos, um atentado ao bom senso dos conhecedores de política e aos próprios adversários, que acabam não encontrando dificuldades na hora do “contra-ataque”.
Danilo Cabral (PSB) é o candidato de Lula. O candidato da Frente Popular, Danilo Cabral (PSB), é o candidato oficial do ex-presidente Lula (PT), que deixou claro que segue em Pernambuco o acordo firmado com o PSB a nível nacional. A candidata do Solidariedade, Marília Arraes, declara e pede votos para o petista, e o seu partido compõe a chapa nacional de apoio ao ex-presidente. Logo, não foi proibida de usar imagens de Lula em sua campanha e nem de dizer que o apoia. Para facilitar a interpretação, “é um oficial e um oficioso”.
Sem falar que até hoje muitos petistas, incluindo a ex-presidente Dilma, não perdoaram o fato de Danilo Cabral ter votado a favor do seu impeachment. Em 2020, o PSB também esteve contra o PT, numa campanha municipal marcada por acusações e baixarias.
Marília Arraes (Solidariedade) forma chapa com partidos do Centrão. A frase é utilizada pela chapa da Frente Popular, que tem em sua base o PP e o Republicanos, que, nacionalmente, apoiam a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Inclusive, bolsonaristas como a deputada Clarissa Tércio, fazem parte, ao menos no campo oficial, da coligação que apoia Danilo.
Pernambuco não pode continuar sendo a capitania hereditária dos Campos Arraes. Se a gente for falar de embate familiar por espaços de poder, o candidato do União Brasil, Miguel Coelho, tem o chamado telhado de vidro. Ele fala da briga entre a família do ex-governador Eduardo Campos e da família Arraes, mas esquece que em Petrolina a briga entre a família Coelho dura mais de 100 anos, com alternâncias de parentes à frente da Prefeitura. Se não bastasse, ele tem como um de seus aliados o ex-governador Mendonça Filho, que também entende bem desse negócio de monopólio familiar. O Sertão não tá capitaneado também?
Danilo diz que é contra o Orçamento Secreto e acusa Marília de ter cadastrado R$ 3,6 milhões. Antes de tornar esta frase uma das suas principais armas políticas contra Marília, Danilo esqueceu que parlamentares e prefeitos de sua base aliada solicitaram emendas do chamado Orçamento Secreto – que agora é público e de fácil acesso para qualquer cidadão. Na lista dos “usuários”, está o filho do primeiro suplente ao Senado, o deputado federal Silvio Costa Filho; o deputado petista Carlos Veras, e socialistas como Felipe Carreras, Gonzaga Patriota e Milton Coelho. Sem falar nos prefeitos João Campos (Recife), Ana Célia Cabral (Surubim) e Márcia Conrado (Serra Talhada). Todos solicitaram valores dez vezes maiores que os de Marília, e assim o fizeram porque é uma prática inerente à posição de gestor e ente legislativo. Outro ponto importante é que os valores solicitados nem sempre são liberados. E quando o são, na maioria dos casos não é em totalidade. Depois que os aliados “entraram no bolo do Orçamento Secreto ”, o discurso mudou e o problema não é mais Marília ter pedido a verba. O problema é ela ter se alinhado a pautas bolsonaristas para garantir liberação de verbas.
Marília se absteve de votações e em alguns casos votou de acordo com pautas bolsonaristas. Danilo pede explicações a Marília sobre um possível alinhamento dela a pautas bolsonaristas, e até mesmo sobre a sua eleição para a Mesa Diretora da Câmara Federal. Não custa nada lembrar que o presidente da Casa, Arthur Lira, do PP, foi eleito com votos de pelo menos 15 deputados do PSB que, à época, eram liderados por Danilo Cabral. Estima-se que metade da bancada socialista deu sustentação ao Governo Bolsonaro na Câmara. Será que o candidato esqueceu, ou o eleitor é fácil de ser iludido mesmo?
Marília foge do debate com os demais candidatos. Outra queixa vinda de Danilo Cabral sobre Marília é quanto à ausência dela nos debates. Recentemente, Raquel Lyra também fez coro, assim como Miguel Coelho. No entanto, o tema não tende a ser mais puxado, ao menos pelo candidato do PSB, já que o ex-presidente Lula confirmou que não irá aos debates presidenciais do SBT e da TV Globo. Ou será que o pau que dá em Chico também dará em Francisco?