Do Correio Braziliense – A um dia das eleições gerais, 11% da população apta a votar ainda não definiu quem escolherá para presidir o país pelos próximos quatro anos. O percentual aparece na pesquisa espontânea do Datafolha, divulgada na última quinta-feira. Quando se trata da estimulada, apenas 2% se declaram indecisos — esse é o menor índice dos últimos anos. Apesar de a maioria sustentar já ter sacramentado o voto — 85%, segundo o instituto —, os que estão em dúvida sobre quem escolher podem acabar definindo se haverá segundo turno.
Na pesquisa espontânea não é apresentada ao entrevistado a lista de candidatos. “A pergunta é de pronto: se as eleições fossem hoje, em quem você votaria para presidente, e o eleitor responde. Esse voto geralmente é o mais engajado, é o mais certo que vai para a urna”, explica o sociólogo e diretor do Instituto Opinião, Arilton Freres.
O poder de decisão desse grupo de eleitores se deve a diversas variáveis que podem contribuir para a alteração dos índices registrados nas pesquisas. Uma delas é o chamado “voto envergonhado”, destinado aos dois candidatos que lideram as pesquisas — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Como ambos têm altos índices de rejeição, o eleitor tende a manter em segredo a sua opção.
Freres diz que observa ambos os casos nas pesquisas do instituto. “Já tivemos episódios aqui de que o eleitor pediu para responder à pesquisa distante do restante da família, na porta de casa, para não dizer que votava no Lula, porque a família era bolsonarista. Esse voto envergonhado é difícil, você não tem um cálculo estatístico seguro para dizer quantos por cento é. Eu diria que é um índice muito pequeno, mas que pode definir para eleição finalizar no primeiro turno e até no segundo turno”, destaca. “Pegando a maioria das pesquisas, a diferença para ser no primeiro ou no segundo turno é muito pequena, cerca de dois por cento, fica dentro da margem de erro.”
A rejeição aos líderes das pesquisas de intenção de voto pode acabar sendo um fiel da balança. É o que enfatiza o cientista político do Insper Leandro Consentino. Ele relembra o fenômeno ocorrido nos Estados Unidos, na primeira eleição do agora ex-presidente Donald Trump. “Boa parte dos votos de Donald Trump na primeira eleição dele era de votos envergonhados e acabou surpreendendo muito pelos resultados. Podemos esperar que esse fenômeno também ocorra em certo sentido no Brasil”, afirma. “Voto envergonhado não é patrimônio de um candidato ou de outro. Portanto, esse é um fator de maior imprevisibilidade no jogo.”