Por Renata Gondim – Eleita a primeira mulher senadora por Pernambuco com mais de 2 milhões de votos para um mandato de oito anos (2023-2030), Teresa Leitão (PT) vem atuando na Casa Alta defendendo bandeiras que fazem parte da sua história de vinte anos de vida parlamentar e se empenha para fazer valer o título de “a senadora da Educação”. Nesta entrevista exclusiva ao Blog da Renata, a petista faz um balanço dos seus primeiros seis meses de mandato, fala sobre projetos importantes que estão em tramitação no Senado neste período, e as dificuldades impostas pelo preconceito político. Ela ainda elenca os desafios do novo Governo Lula e faz uma avaliação de desempenho do Governo Raquel Lyra.
Blog da Renata: Passados esses primeiros seis meses, a senhora avalia que já é possível apresentar um direcionado do que vai vir a ser o seu mandato como a primeira mulher senadora por Pernambuco?
Teresa Leitão: Com certeza, porque no Legislativo não existe o mesmo estágio que existe em um Governo. Ele é um pouquinho menor porque o ritmo do Legislativo ele é imposto por você própria, por aquilo que você leva como bagagem, e pelos compromissos que você leva para transformar em ação, além de pelo próprio Executivo. Então neste sentido a nossa produção nesse primeiro semestre teve muito a ver com as medidas provisórias. (O presidente) Lula mandou medida provisória do Minha Casa Minha Vida; medida provisória do Mais Médicos; medida provisória do Bolsa Família; lei de muita estrutura, como a equalização salarial entre homens e mulheres; o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), outra lei grande é a das escolas em tempo integral… E isso impõe um ritmo, e foi acelerado, muito por conta da demanda do Executivo que está num ritmo bastante veloz, até mesmo para recuperar os quatros anos de paralização que a gente viveu no Brasil.
Blog da Renata: Quando a senhora foi eleita, muito se falava nos bastidores políticos que a senhora “não daria conta do recado” porque não tinha a vivência da política nacional. Foi mais difícil sair da Alepe direto para o Senado?
Teresa Leitão: Eu não tenho nenhum problema em aprender com quem sabe mais. Então fui aprendendo e fazendo. Primeiro, eu nunca fui uma candidata eleita com um caminhão de votos, mas a experiência daqui (Alepe) valeu, e por essa experiência não chego nos lugares batendo o pé na porta como muitos políticos que se acham fazem. Eu podia dizer que tive mais de 46% dos votos, que eu sou a primeira mulher, eu sou isso, sou aquilo, sou a bam bam bam…mas não, eu cheguei com humildade, querendo aprender…
Uma das primeiras leituras que fiz em janeiro foi o regimento, não sei de cor, mas fiz lá (no Senado) o mesmo que fiz aqui (Alepe)… No mês de janeiro eu li todo o regimento, não decorei e nem sou regimentalista, mas queria saber onde que eu tô pisando do ponto de vista do que eu posso fazer para não tá pagando mico também. E lá nós temos dois regimentos, temos o regimento do Senado, e temos o regimento comum do Senado e da Câmara, que tem algumas coisas que são conjuntas.
Então acho que quando a gente tem primeiro a responsabilidade com o eleitor, com os votos que a gente teve, a responsabilidade com o projeto, a alegria de ser base do terceiro Governo Lula, e eu me elegi a primeira vez (como deputada) quando Lula se elegeu a primeira vez, então me eleger senadora quando Lula enfrenta também esse desafio de ser Lula pela terceira vez me dá um grau de responsabilidade muito grande, do tamanho da minha alegria.
Então quem vai me defender, quem vai me respaldar, se não for a minha seriedade? Agora a bancada do PT ajuda porque tem uma estrutura organizativa, tem quem a recorrer, porque é uma senhora assessoria (parlamentar, econômica, etc.) e isso ajuda muito.
Blog da Renata: Para este segundo semestre, o que podemos esperar? A senhora se impôs algum desafio?
Teresa Leitão: Sobre mim pesou a expectativa que eu ia ser, e vou ser, pretendo, e já estou sendo, a Senadora da Educação. Não sou a única, a gente tem Professora Dorinha (Sem. Professora Dorinha Seabra, União-TO), a gente tem o próprio Presidente da Comissão de Educação, Flavio Arns (PSB-PR), e a gente consegue sempre fazer essa pauta apesar das diferenças partidárias. E o próprio presidente (Lula) ele tem muita preocupação com as políticas educacionais…
Mas eu acho que esse também vai ser um semestre voltado muito à questão tributária. Eu sou titular da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), e isso pra mim é o maior desafio porque nos meus vinte anos de mandato eu só fui uma vez titular da Comissão de Finanças (na Assembleia Legislativa de Pernambuco). Já teve duas emendas que eu rejeitei, e quando você rejeita uma emenda de um senador mais antigo do que eu você tem que ter uma justificativa bem consistente porque também tem os donos da bola (mais antigos)…
Blog da Renata – E agora falando um pouco sobre Pernambuco, como a senhora vem avaliando os primeiros meses de gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB)?
Teresa Leitão – Eu acho que ela demorou a aprumar. Eu acho que os primeiros meses a gente ficou sem querer avaliar porque eram os primeiros meses, mas demorou a engatar. As políticas básicas de saúde, educação, e segurança, agora que estão tendo os primeiros contornos e com alguns percalços. Assim como eu já comentei quando ela lançou o Todos pela Educação, muita coisa boa no programa, inclusive a tentativa de um regime de colaboração entre Estado e municípios, mas nada para o plano de cargos. Uma das coisas que eu sugeri a ela inclusive foi que inicie um estudo para reformulação do plano de cargos para todo ano não ficar essa peleja de não pagar o piso, com impacto na carreira dos professores. Então acho que depois desses seis meses também o tempo do estágio probatório eu acho que já passou. Agora ela vai ser mais exigida, porque os primeiros meses, mesmo não tendo pegado um Estado desorganizado, porque por mais que o discurso de oposição dela à Paulo diga que pegou o Estado com dificuldades, assim e assado, as próprias ações do governo demonstram que não. Por exemplo: o Estado deve estar com muita liquidez, senão não tinha conseguido o empréstimo (junto a Caixa Econômica Federal). Então acho positivas algumas iniciativas que ela teve junto ao Governo Federal, junto aos ministérios, iniciativas de reestruturação ou de estruturação do Estado, como as intervenções nas rodovias e BRs, sobretudo, acho importante. Mas agora eu acho que o que a população quer são ações mais efetivas.
Tá comprovado que a transição foi longa demais, e já passou. Agora ela tem que se assumir como governadora de fato eleita para o futuro. Não precisa ficar o tempo todo olhando para o retrovisor.
Blog da Renata – A senhora acha que o discurso do Governo do Estado não está sendo claro no que se refere ao conjunto de obras que são entregues como continuidade da gestão anterior?
Teresa Leitão – Mais ou menos, porque sempre tem sempre uma pitadinha de crítica. A crítica explícita sempre tem que ser muito bem colocada. O que ela vem fazendo é um acabamento, e corretamente, ela não agiu errado não. Tem que terminar porque a obra não é dela, a obra é do povo, e o dinheiro também. Eu acho que tudo bem que o governo dela não foi uma continuidade e nem é uma continuidade do de Paulo, mas a eleição existe para isso, para se esclarecer, mediar, se nivelar. O que ela está fazendo de novo aqui não é novo, ela está inovando o que ela encontrou para concluir. Uma coisa assim nova, especificamente com a marca dela, a gente ainda não viu de maneira mais ampla.