Por Renata Gondim – A disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores do Recife nas eleições de outubro ganhou um capítulo no mínimo polêmico. Candidatas a vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Liana Cirne e Karina Santos estão sendo alvos de perseguição por parte do também candidato Sávio Rodrigues, do Movimento Brasil Livre (MBL). As “abordagens” do militante podem ser vistas em seu perfil nas redes sociais, sempre com a conotação de que elas fogem do debate e das perguntas feitas por ele.
Em um dos vídeos, Sávio diz que Karina se auto intitula de “terrivelmente petista”, mas foge da conversa. Em sua defesa, o ex-deputado federal e figura histórica do PT, Fernando Ferro, pede educadamente para que o rapaz respeite a divergência de ideologia política, enquanto Karina continua uma conversa paralela, ignorando a abordagem ofensiva. “Eu não havia me pronunciado ainda porque essa é a estratégia da extrema direita, trabalho com comunicação, sei o que eles querem. Fazem recortes, perseguem pessoas, mudam narrativas, fazem vídeos deturpados, tentam lacrar a todo custo para poder polarizar. E sabe qual é o desespero deles? É que eu não dou o que eles querem. Não perco meu tempo com esse tipo de gente, que querem ganhar a política com intimidações e mentiras”, respondeu a candidata, quando procurada pela reportagem.
Em outro vídeo, o alvo é a vereadora candidata a reeleição, Liana Cirne, que diz que já teve quatro agendas de campanha interrompidas por Sávio. “O MBL, que nunca fez nada que preste pelo Brasil ou pelo Recife, resolveu me perseguir. Já é a quarta vez que eles me abordam, fazem perguntas, editam o vídeo de forma mau caráter, mentem que eu não respondo às perguntas. Eu não sou mulher de fugir de nada, e muito menos de fugir de pergunta. Quem se acovarda é essa extrema direita de sapatênis que não tem coragem de se assumir bolsonarista e negacionista”, defendeu-se ela em suas redes sociais, nesta sexta-feira (23).
A importunação está sendo analisada pela equipe jurídica da campanha de Liana para
possíveis providências. A abordagem, inclusive, pode ser considerada uma violência política de gênero, cuja lei (nº 14.192/2021) estabelece regras jurídicas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher nos espaços e nas atividades relacionadas ao exercício de seus direitos políticos.
O OUTRO LADO – Em conversa com o Blog da Renata, o candidato Sávio Rodrigues explicou que sua estratégia de comunicação não se resume ao período eleitoral. “Este tipo de abordagem é feita por membros da MBL durante todo o tempo, não apenas em campanha. E o objetivo é demonstrar para o público em geral que essas candidatos, candidatadas, não sabem responder…Elas bravejam democracia e diálogo e quando são confrontadas fogem das perguntas. O objetivo é expor a hipocrisia dessa galera”, disse ele.
Questionado sobre uma possível preferência por abordagens a candidatas mulheres, Sávio disse já ter feito vídeos com outras figuras públicas, como o próprio prefeito João Campos (PSB), o deputado federal Pedro Campos (PSB), o senador Humberto Costa (PT) e o deputado estadual João Paulo (PT). “Não é violência política de gênero porque não tem preferência. Se são pessoas públicas e o questionamento for válido, eu vou atrás. Essa coisa política de preferência de gênero é do pessoal de esquerda. Minhas abordagens são sempre educadas e transparentes”, defendeu.
Sávio ainda negou que edite os vídeos de forma tendenciosa ou mentirosa, e deixou à disposição o material bruto das filmagens, afirmando que receberia qualquer processo como “uma tentativa de censura e cerceamento a liberdade de expressão”. “Eu tenho direito de gravar – as abordagens – até mesmo para minha proteção e segurança. Quem tem mandato tem fé pública, a palavra tem mais valor que a minha. Mas a imagem vale mais que qualquer palavra”, finalizou.